domingo, 1 de maio de 2011

ESCRITO À MÃO

Vivo a era digital, desde o momento em que acordo com toques cada vez mais polifônicos, até a hora de dormir em que só desligo o computador quando já estou caindo de sono. Sou tão virtual, mas quando fala da escrita sou arcaico. Gosto de papel e de caneta. Carrego blocos de anotações, tenho cadernetas na cabeceira da cama, espalho resmas de papel pela casa. Gosto de ver o desenho das letras compondo o branco do papel com as linhas que me libertam do lugar comum. Gosto de caneta BIC azul, dessas bem comuns. Mas não me venham com as genéricas, pontas finas ou hidrográficas. Gosto de assistir a tinta descendo pelo tubo, com cada inspiração, que vira uma composição visual de palavras. Tenho várias dessas canetas zeradas guardadas feito um troféu.
A ideia, no meu caso, vem sempre no papel. Quando vou para o teclado sei o que quero e só deixo a imaginação e o corretor ortográficos correrem soltos. Na maioria das vezes, deitado, é que eu consigo aquietar a alma, organizar os pensamentos que escapam e precisam, algumas vezes, de registro. Dá para imaginar que esse texto que você lê agora, saiu de uma folha de papel e ganhou vida graças a uma caneta BIC já falhando? Se me contassem, eu não acreditaria, mas é assim que acontece. Só assim. Transformo o que sinto em frases que raramente fazem sentido. Sou romântico e nostálgico, mas odiaria escrever com tinta e bico de pena. Sou da geração esferográfica e dificilmente alguém vai tirar isso de mim.
Gosto de mandar e receber cartas, algo tão esquecido nos dias de hoje, não é? Podem me chamar de velho, retrógrado ou antigo. Sei que não sou. Atualizo-me diariamente, sei o que rola na música, nas artes e no mundo e aprendo algo novo a cada dia, menos digitação, oh, coisa horrível. Talvez por isso eu escreva à mão, mas não acredito. Escrevo à mão porque esse é meu jeito e não quero mudar. E outra, minha letra é linda, modéstia à parte.

P.S.: Adoraria ter uma pessoa para digitar meus textos, mas as anotações, apesar da letra primorosa, são tão confusas e cheias de setas, rabiscos e atalhos que dificilmente alguém entenderia os caminhos tortuosos dos meus manuscritos. Sobra-me catar os milhos, com o dedo indicador, longe da vista de todos.

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