quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

GELL- POÉTICA DO DESESPERO

Eu faço a pré-estréia de meu novo espetáculo, “Gell- Poética do Desespero”, inspirado na vida e obra do genial pintor holandês Vincent Van Gogh, realizado dentro do Museu Primitivista José Antônio da Silva, no dia 26/02, para convidados. Gell em holandês significa amarelo, cor fundamental para o entendimento da obra do pintor e cor que representa o desespero, tão essencial no estado de espírito de Van Gogh. Esse espetáculo-performance foi concebido para museus, galerias de arte ou exposições, dialogando diretamente com o espaço destinados às obras de arte.



E embora “Gell-Poética do Desespero”, seja inspirado nas cartas de Van Gogh a seu irmão Théo, o roteiro de Tiago Mentor não segue um apelo unicamente biográfico, fazendo referências a todo universo da história da arte, discutindo a genialidade, a banalidade, a maldição da arte e o desespero, seja ele artístico ou real. No entanto, é mais autobiográfico que biográfico. “Gell” é um discurso sobre o artista e a sua criação, sobre o sucesso e sobre o fracasso e principalmente sobre a mercadologia da arte. E Van Gogh é o artista que mais representa essa contradição, vendendo apenas um quadro e vida e tornando-se genial após seu suicídio. Mas é, sobretudo, e antes de tudo uma discussão sobre a arte e sua crise, evidenciada pela última Bienal das Artes, a do Vazio, que foi mais polêmica do que representativa, culminando com a pichação de um dos pavilhões, episódio lembrado na peça. A sonoplastia é concebida por Miltinho Verderi.







Um processo totalmente em aberto e misturando instalação e música, unindo Van Gogh e Amy Winehouse, que carregam os dois lados da ‘loucura artística’ e aproxima-los faz com que o papel do artista seja em posto em xeque. O terceiro vértice da peça é José Antônio da Silva, que completaria 100 anos em 2009, famoso pintor primitivista que dá nome ao principal espaço de interesse do grupo. O diálogo com o pintor naif se dá diretamente com suas obras e com sua personalidade nada modesta e muito artística.





TRECHO:
"Aqui, nesse altar, eu começo o sacrifício. Em nome dos homem das cavernas e dos homens das favelas, em nome das bruxas queimadas e das musas mortas tragicamente. Em nome de todas as vanguardas e todos os momentos de crise. Só a antropofagia nos une. Daí-me inspiração nesse momento perplexo para que eu posso comungar de só um ideal. Só me interessa o que não é meu. É a crônica de uma morte anunciada. A arte agoniza nas filas dos SUS enquanto a massa, em choque pelo último capítulo da novela incita em mim mais uma crise pós-moderna. Roteiros, roteiros, roteiros, roteiros. Bull shit! Em nome das balas perdidas e achadas em corpos inocentes. Pelos palestinos e israelenses mortos por mísseis da carnificina. Em nome de Vincent Van Gogh, Amy Winehouse e José Antõnio da Silva eu dou início a esse ritual . Pelo sangue derramado e por tanta ilusão eu me entrego, como sacrifício nesse banquete. A alegria é a prova dos nove. Eu me devoro. Amém."

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